Hoje começamos a falar sobre pessoas que fazem a diferença dentro do Jockey Club do Paraná e principalmente dentro do turfe brasileiro. E para começar nada melhor que um comissário de corridas que se tornou um dos treinadores mais requisitados do Brasil. Com diversas vitórias de Grupo 1, Luiz Roberto Feltran é o nosso primeiro convocado para o “Personalidades do Turfe”.

A história de Beto Feltran com o turfe começou cedo, quando acompanhava seu avô, que treinou cavalos por cerca de 40 anos. Na segunda metade da década de 90 ele já era comissário de corridas do Jockey Club do Paraná. Devido a seu conhecimento apurado, Feltran foi convidado a dividir seu conhecimento em um empreendimento inovador. A Top Traning.

“Eu era comissário e recebi o convite do Zuca, da TBS (Mário Marques) para montarmos a Top Training. Como eu estava envolvido com a diretoria do Clube, não podia ser o treinador. Então supervisionava os animais, com o Mauri Santos treinando. A primeira vitória veio com Vlamir, crioulo do Haras Rosa do Sul e de propriedade do Stud Vert Blanc Rouge. Ele foi pilotado por Eurico Rosa.”

Depois desta parceria ter dado certo e chamado a atenção de todos para seu trabalho, foi a hora de Feltran seguir a carreira solo. E no início de janeiro de 1998 Feltran já estava vencendo sua primeira carreira. Uma coincidência: sua primeira vitória assinando como treinador foi com um aprendiz de quarta categoria. Um tal de Altair Domingos.

“Minha primeira vitória veio em janeiro de 1998, com This is Big, um filho de Babor de propriedade do Stud Violeta, de Rogério Amaral. Por coincidência foi a primeira vitória de Altair Domingos, quando ainda era aprendiz de quarta categoria aqui no Tarumã. Já na primeira temporada – 1998/1999 – nós ganhamos as estatísticas. Ele como jóquei e eu como treinador.”

E dali em diante Beto Feltran começou a progredir nacionalmente. Seus resultados atrairam a atenção de diversos proprietários de renome nacional, como Haras Santa Maria de Araras, Fazenda Mondesir, Stud Palura entre outros. Os resultados foram ótimos, com Beto preparando animais para correr e vencer diversos clássicos e grandes prêmios da mais alta magnitude no Brasil.

“Teve uma época que eu tinha nas cocheiras o Araras, Fazenda Mondesir, Stud Palura, Old Friends. Eram uns seis de outras localidades, fora os grandes proprietários que me prestigiavam aqui. Foi uma época muito boa.”

Este trabalho do Feltran com o Haras Santa Maria de Araras ajudou-o em uma parceria de sucesso com José Cid Campêlo Filho. As primeiras gerações renderam a compra de Ricocó, que foi exportado após vencer o GP Presidente Augusto de Souza Queiroz (G3) e Sorrentino, vencedor da Taça de Prata (G1) e das duas primeiras provas da Tríplice Coroa Paulista. Além deles, o craque e hoje reprodutor Skypilot também foi iniciado com Feltran.

Sorrentino marcou a carreira de Feltran de diversas maneiras. Claro que foi o líder inconteste da geração, venceu grandes provas e sua campanha foi espetacular. Mas o animal adoecer atrapalhou um grande feito para ele, para o animal e para seus proprietários (José Cid Campêlo Filho e Carlos Roberto Fernandes): a conquista da Tríplice Coroa.

“Uma das minhas grandes decepções foi não ter podido correr o Derby Paulista com o Sorrentino. Ele havia ganho a primeira prova da Tríplice Coroa, o GP Ipiranga (G1). Depois vencemos o GP Jockey Club de São Paulo (G1) de maneira mais fácil e, com o aumento de distância ele iria ganhar muito bem. No entanto, com 10 dias para o Derby ele adoeceu – teve uma lifangite – e não foi possível tratá-lo a tempo. Esta foi uma tristeza, ter um Tríplice Coroado é um sonho.”

Beto Feltran também teve chances de ser tríplice coroado com uma égua, Una Beleza. A craque do Haras Santa Maria de Araras tem uma história muito interessante, que passa por um fato inusitado. O resultado também foi um animal “quase” tríplice coroado.

“A Una Beleza começou aqui comigo e víamos que ela era uma égua típica de grama. Nós sempre estreávamos os animais do Araras aqui no Tarumã para depois ir a São Paulo. Aqui ela perdeu e levamos para correr o perdedor em São Paulo. Montava o José Aparecido e eu falei: ‘Zé, capricha que essa égua é uma máquina. Vai ganhar hoje e vamos corre-la no GP Barão de Piracicaba’. E em um acidente de percurso ela perdeu, até o Zé (Aparecido) veio se desculpar, mas isso é coisa que acontece na corrida. Nós preferimos não corre-la um Grupo 1 como perdedora, ela voltou a vencer uma prova normal, depois ganhando as duas outras provas da coroa.”

Após vencer o GP Diana (G1), Una Beleza correu o Derby Paulista, chegando em terceiro para Xin Xu Lin. Feltran queria levá-la para o GP Carlos Pellegrini (G1), na Argentina. O staff do Araras preferiu não inscreve-la, culminando na vitória do brasileiro vencedor do Derby daquele ano. Beto conta que foi muito gratificante receber um telefonema de Julio Bozano, dono do Araras parabenizando-o por seu expertise.

As corridas do Tarumã pararam, o Jockey Club de São Paulo começou a dar sinais de crise e Beto Feltran resolveu se mudar. Contando com os animais do Haras Santa Maria de Araras e com diversos treinadores paranaenses o prestigiando, ele foi para o Rio de Janeiro seguir carreira no Hipódromo da Gávea.

“Quando o Araras me deu a notícia de que não iria mais iniciar animais em Curitiba – normalmente eles mandavam de 10 a 15 potros para iniciar aqui comigo – me fizeram pensar em sair. Fiquei dois anos lá antes de voltar. Lá eu comecei no CT do Vale do Itajara, chegando a ter cerca de 50 animais. Porém o Araras decidiu centralizar todos os seus animais com outro treinador e eu mudei para o CT Verde e Preto, a convite do Beto Solanés. Recebi o convite dos donos do Stud AML e decidi voltar. “

Hoje Beto conta com 16 animais sob seu cuidado, número bem baixo pelo talento e história que ele tem dentro do turfe nacional. Atendendo na cocheira do Stud AML e no Grupo 29, ele conta com diversos potros de altíssimo garbo. Entre estes animais uma se destaca, Hassenah, que corre no próximo sábado em São Paulo a seletiva para o Gran Premio Latinoamericano Longines (G1).

A égua do Stud AML vai enfrentar sete machos no GP Linneu de Paula Machado (G3) em busca da indicação para representar o turfe brasileiro na principal prova do calendário da OSAF. Beto falou sobre sua expectativa para a carreira, que acontece em 2.000 metros na pista de grama.

“Ela correrá contra sete machos, sendo quatro potros que irão com pesos mais leves. Este cavalo do Haras Regina, o Olympic Ipswich é um grande adversário, mesmo baixando dos 2.400 metros para os 2.000. A Hassenah vem mantendo um nível de performance muito bom há um ano. O importante é ela chegar bem, viajar bem. Seus penúltimo trabalho foi muito bom, o último também, então agora é só embarcar para São Paulo.”

Ganhando o caminho de Hassenah será o Chile, onde terá tempo para se adaptar ao sentido horário. Para Beto Feltran isso não é um problema, uma vez que diversos animais galopam no sentido contrário da pista. Caso a classificação para o Latinoamericano não venha, ainda existe a possibilidade dela correr a prova dedicada às éguas no mesmo dia, em 1.800 metros.

Muito próximo de sua 750° vitória, Luiz Roberto Feltran acumula cada vez mais troféus. Perguntado sobre quem foi o melhor cavalo que treinou, Beto responde sem titubear que tiveram três: Sorrentino, Too Friendly, High Chris e Jopollo. Entre as fêmeas Una Beleza e a Hassenah. Quando perguntado qual vitória mais o marcou ele titubeia, afinal, foram tantas clássicas que é impossível citar uma só.

“Vitória é uma coisa peculiar. Eu costumo dizer que o dia que eu não ficar mais nervoso em uma prova, independente de ser um Grupo 1 ou um páreo de claiming é melhor parar. Tivemos vitórias importantes, talvez o Itaquere Power no GP Presidente da República em 2001, por ter sido o primeiro Grupo 1 tenha marcado mais. O Fogonaroupa foi o primeiro GP Paraná e também marcou bastante. Meu avô foi treinador durante 40 anos e não conseguiu ganhar um Paraná. Gosto de uma marca que ele deteve, que é vencer 138 páreos com corridas só aos domingos no Tarumã. Isso se fizer a conta dá um percentual muito grande de aproveitamento.”

Este é Luiz Roberto Feltran, um treinador que brilhou por onde passou e que busca cada vez mais a excelência. Merecidamente o primeiro a contar sua história no “Personalidades o Turfe”, que volta semana que vem com mais um grande nome do turfe paranaense e nacional.

*Fotos: Leopoldo Scremin (capa e Hassenah), Site JCB por Sylvio Rondinelli e Site JCPR por Porfirio Menezes.