Quando assistimos um páreo vemos vários detalhes dentro da pista. Os cavalos sempre em ótima forma nos remetem ao trabalho dos treinadores e tratadores. Os jóqueis e suas performances maravilhosas nos fazem lembrar de seus instrutores e mentores. Assim como a vitória nos faz pesquisar os pedigrees e valorizar quem os criou.

Entretanto, para que cada animal esteja na pista existe um trabalho ferrenho da Comissão de Corridas, desde a recepção das inscrições e montarias, passando pela formação dos páreos, a elaboração dos programas e retrospectos, dados dos estreantes, ferrejamento, condições da pista e forfaits.

No dia da prova ainda temos a pesagem e repesagem dos jóqueis, declarações e ocorrências, vendas em claiming, confirmação das provas e divulgação dos rateios e movimentos completos. Isso tudo – que talvez não seja percebido pelo grande público – é feito pelos funcionários da Comissão de Corridas.

E um funcionário está nesta batalha desde junho de 1973. Isso mesmo, na Comissão do Jockey Club do Paraná um colaborador dos mais considerados por todos está prestes a comemorar 46 anos de serviço apenas neste órgão. Se somarmos toda a sua passagem no turfe, desde a época de tratador dos animais dá bem mais.

Cinquenta e três anos dedicados ao turfe não é para qualquer um. Começar trabalhando em haras, passar algum tempo escovando cavalos até chegar à Comissão de Corridas, trabalhar como cronista de turfe e ainda presidir a ACTP.

Ser a grande referência tanto para profissionais quanto para diretores, sobrevivendo as diversas fases que o clube já passou e ainda trabalhar todos os dias com muito amor pelo que faz. Uma figura de tamanha importância não poderia ficar de fora do nosso “Personalidades do Turfe”. Estamos falando de Cezar Augusto Paula.

O turfe entrou em sua vida em 1965, quando começou a trabalhar no Haras São Joaquim, do Doutor Heliodoro Duboc. Depois de um tempo no haras, o Dr. Duboc decidiu trazer Cezar para o Jockey, onde iria trabalhar em sua cocheira.

Escovando cavalos Cezar teve passagem por algumas cocheiras renomadas, como a de Alceu Bosa e de Silvio Batista Piotto. Porém, foi na cocheira de Elídio Pereira Gusso que Cezar alcançou sua maior glória como cavalariço, ao escovar o craque Negroni, vencedor do Grande Prêmio Paraná. Com Cezar como seu escovador, foram 12 apresentações e 11 vitórias.

“Eu trabalhei com o F.Loezer, Alceu Bozza e com o Silvio Batista Piotto”, conta Cezar. “Naquela época ele – Silvio – era o presidente da Associação dos Profissionais do Turfe. Os cavalariços eram todos registrados pela associação, diferente de hoje que são registrados pelos treinadores. Depois fui trabalhar com Elidio Pereira Gusso, onde escovei o Negroni, que venceu o GP Paraná e o GP Bento Gonçalves. Em 1972 nós fomos correr o GP 14 de Março e ele fraturou o sesamóide, fazendo segundo.”

Depois disso Cezar tentou seguir outro caminho. Recebeu a oportunidade de trabalhar em um banco, onde ficou por um ano. Uma cirurgia fez com que ele se afastasse das tarefas bancárias. Até que em 1973 o Dr. Carlos Eduardo foi eleito presidente da Comissão de Corridas, quando Aramys Bertholdi era presidente do clube. Ali surgiu a oportunidade de Cezar entrar no emprego que conserva até hoje.

“O Dr. Carlos me disse que estava aberta uma vaga na Comissão de Corridas, porém ela estava prometida para a Angela Gusso”, continua Cezar. “Eu fui conversar com a Angela e expliquei que o Dr. Carlos havia me falado da vaga, e que, se ela não quisesse trabalhar lá ele me admitiria. Ela me disse que não tinha problema, que se dependesse dela a vaga era minha. Então em junho de 1973 eu entrei para a Comissão fazendo os trabalhos mais simples, como office boy e organização do livro de fotos.”

Cezar começou a exercer a função ao lado de Adelcio Menegolo e Leonardo Velloso, que era o handicaper na época. Até que um dia a falta de um funcionário colocou-o em uma nova jornada, a de cronista de turfe. Depois disso veio estágios no Jornal Estado do Paraná, com Raphael Munhoz da Rocha e a responsabilidade de escrever as matérias do Tarumã na Revista Turfe e Fomento.

“Em um domingo um funcionário faltou no alto-falante. Então eu comecei a trabalhar com o microfone. Eu dava o cânter aos domingos, confirmava o páreo e passava o som para o Dalton (Mehl Andrusko), Ivo (Chiarello) e Ary (Aires de Mello Jr). Depois surgiu a Revista Turfe e Fomento em São Paulo, onde eu escrevia as matérias daqui. E como eu trabalhei no auto-falante e fiz estágio no Estado do Paraná com o Raphael Munhoz da Rocha, o Dalton me convidou para fazer parte da Associação dos Cronistas de Turfe do Paraná.”

Cezar sempre participava dos concursos da Associação, tradicionais na época, chegando a vencer vários. Até que chegou o ano de 1999 e ele foi eleito presidente da ACTP. Ele mostra orgulhoso no salão acima da Comissão de Corridas uma placa de bronze, onde consta seu nome como presidente da instituição octogenária.

Sempre fazendo parte da Comissão de Corridas, Cezar conta que já teve diversas designações. Ele já foi office boy no início, depois ficando um bom tempo cuidando da pesagem e repesagem dos jóqueis. Teve a função de secretário e até foi handicaper, fato este que rendeu uma história interessante.

“Teve um tempo que a gestão de Ubaldo Siqueira decidiu mandar o Léo Velloso embora, que era handicaper, para contenção de despesas. Me pediram para assumir o cargo e acumular com minhas outras funções. Porém, fiquei muito atarefado e não conseguia fazer o meu serviço e o do Léo, até que eu conversei com o presidente para trazerem o Leó Velloso de volta. Ele voltou a fazer o serviço de handicaper e eu continuei com minhas funções, completando 45 anos de Comissão de Corridas em 2018.”

Ele se orgulha do relacionamento que formou em diversas gestões que passaram em todo este tempo. Quanto mais ficava experiente, mais podia ajudar quando mudavam as gestões. Viveu épocas felizes e tristes, como ele mesmo faz questão de mencionar. Mas nunca desistiu ou trabalhou contra a instituição que tornou-se parte de sua vida.

“Teve uma época que o Jockey passou por grandes dificuldades, na gestão do Dr. Aramys Bertoldi. Chegamos a ficar três meses sem receber. Na época, o Diretor Financeiro era o Zuzo, que chegava a nos dar vale do próprio bolso para ajudar-nos. Mas foi uma fase rápida, uma vez que o Jockey conseguiu recuperar o Sweepstake da Caixa, o que ajudou muito aquela gestão.”

No balanço geral, Cezar está muito feliz com os caminhos que o Hipódromo do Tarumã está passando. Ele conta que foi muito difícil os quase dois anos de inatividade do clube, uma vez que isto fez com que o Jockey perdesse muitos animais. Contudo, acredita que daqui em diante o futuro é próspero, principalmente após a chegada da nova direção do clube, no fim de 2015.

“Graças a diretoria do Paulo Pelanda e agora do Roberto Belina, as coisas estão crescendo. Infelizmente a diretoria passada conseguiu perder a Carta Patente e ficamos quase dois anos sem corrida. A diretoria do Paulo Pelanda conseguiu resgatar a Carta Patente e estamos voltando a crescer. Com o tempo sem realizar corridas houve uma debandada de animais e proprietários, mas agora, com este novo trabalho estamos conseguindo reaver isso. Não é do dia para a noite que conseguiremos reaver isso. Hoje temos 340 cavalos alojados aqui, o que é pouco perto de outras épocas. Com o trabalho do presidente Roberto Belina, logo deveremos ter mais animais e consequentemente mais corridas mensais.”

Cinquenta e três anos de turfe, quarenta e cinco trabalhando na Comissão de Corridas e muitas histórias para contar. Esse é o “Cezão”, uma das figuras mais emblemáticas do turfe paranaense. Então quando você estiver acompanhando os animais rodando no paddock da social, repare bem nos jóqueis. Pois surgirá entre eles uma figura de pouco mais de 1,90 para simplesmente falar: “Vamos montar, boa sorte a todos”. Esta figura ímpar é Cezar Augusto Paula, mais uma grande personalidade de nosso turfe.

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