Por Luiz Renato Ribas

Uma história narrada pelos desafios nativos em canchas retas até a construção sucessiva dos hipódromos curitibanos e interioranos com seus campeões locais e nacionais.

Desde o século XVIII, predominavam as disputas em cancha reta, protagonizadas em grande parte do Brasil. O Jockey Club Fluminense foi o pioneiro nacional, fundado em 1854 pelo major prussiano Hans Wilhem Von Suckow, criador de cavalos de guerra. Depois em 16 de julho de 1968, nasceu o Jockey Club do Rio e o Derby, cuja fusão deu origem, em 1926, ao Jockey Club Brasileiro, hipódromo da Gávea construído em 1932.

Em 1873 o precursor do turfe paranaense foi o hipólogo gaúcho, Coronel Luiz Jácome de Abreu e Souza incentivando a fundação em 2 de dezembro do ‘Clube Paranaense de Corridas’, hoje Jockey Club do Paraná. Primeira diretoria: Luiz Jácome de Abreu e Souza (presidente honorário) Major Marcondes de Sá (Presidente de fato); Manoel Luiz Agner (Vice); Nestor Augusto Marocines Borba (1º. Secretário); Albino Schimelfeng (2º. Secretário) e Tenente João Batista Ribeiro (Tesoureiro).

Os desafios, em cancha reta, principalmente em Curitiba, Ponta Grossa e Lapa, eram muito comuns muito antes da inauguração do Prado Jácome inaugurado em 29 de janeiro de 1874. A extensão da pista era de 1.700 metros. O hipódromo ficava onde era o hospício – Asilo Nossa Senhora da Luz – na Rua Marechal Floriano Peixoto. O medo da chuva era tanto que a segunda reunião, no dia 29 de março, anunciada às 4h da tarde, começou ao meio-dia. As largadas eram ao sinal de bandeira. Em 1875 passe a chamar Prado Paranaense e dois anos depois, em 1887, Prado Curitybano.

O primeiro criador de cavalos de corridas, ainda mestiços, foi Carlos Weigert, precedendo a Fernando Schneider (Coudelaria Paraná), Antonio Reis dos Santos Filho, Fowler & Todd (Coudelaria Bacacheri), Joaquim Antonio Azevedo, Carlos Dietzsch (Haras Vista Alegre) e Abraham Glaser.

Em 1890 é fundado o Jockey Club Pontagrossense, somente com corridas em cancha reta, cujo hipódromo princesino seria inaugurado 37 anos depois, em 1927, sob iniciativa dos pioneiros Theodoro Pinheiro Machado, Ossian Madureira, Rodolfo Carlos Osternak, Cristiano Justus, José de Azevedo Machado, entre outros

Com a venda do terreno do Prado Jácome, em 1898, inicia-se a construção do futuro Guabirotuba, concluído em 1899 e inaugurado com uma corrida de bicicletas. E somente em 1908, surgiria o primeiro puro sangue de corridas, Seccion, do criador João Weber.

E curiosamente em 1910, o Coritibano F.C aluga a redonda central do hipódromo, para treinos e jogos oficiais do clube, hoje Coritiba.

Até 1928, a maioria dos cavalos paranaenses, inscritos em São Paulo e Rio, eram transportados de navio quando, então, nesse ano é fabricado o primeiro vagão ferroviário.

O primeiro sweepstake (10 contos de réis) é realizado em 21 de abril no GP Cruzeiro do Sul, 2.500 metros, ano em que o prado ficou fechado por vários meses. A pista de terra batida, não resistia as seguidas e fortes chuvas.

E em 1937, sob iniciativa do jornalista Francisco Castellano Neto em 3 de março é fundada a primeira associação de cronistas de turfe do Brasil. E nos anos 40 é fomentada a importação de animais argentinos e uruguaios, além da vinda de potros e potrancas de criação de Linneo de Paula Machado.

Mas o primeiro Grande Prêmio “Paraná” acontece em 1942, vencido por Con Ochos, um argentino de propriedade do interventor Manoel Ribas, patrono do turfe paranaense. Nesse ano é fundada a Escola de Jóqueis Aprendizes sob a direção de Murilo Gomes Correia. Detalhe: os jóqueis corriam com esporas (rosetas) afiadas, chicotes com cordas de violino, recursos cruéis, abolidos na presidência de Rubens Amazonas Lima (1948/1949).

O turfe paranaense em franca evolução com mais de 60 haras instalados no Estado, é enriquecido por mais um hipódromo, o Iapó, do Jockey Club Castrense fundado em 1944, ano que Pirapó, filho do irlandês Tapajós, criado na Granja do Canguiri – posto de monta do Estado (governo Manoel Ribas) – é o primeiro tríplice coroado paranaense.

Com a morte de Manoel Ribas (1873-1946), em 28 de janeiro é nomeado um novo interventor, Brasil Pinheiro Machado, que doa ao Jockey Club 100 mil cruzeiros. Em 1948, cogita-se da construção de um novo hipódromo, com negociações entre o presidente Rubens Amazonas Lima, e o Desembargador Aristoxenes Bittencourt, proprietário de uma extensa área na região do Tarumã.

O prefeito Lineu Ferreira do Amaral assina, em 1945, a lei 205, incorporando as áreas especificas do Guabirotuba ao patrimônio do Jockey Club do Paraná. Em 1950, com Lineu na presidência do Jockey, o governador Moysés Lupion autoriza a aquisição de área necessária para a construção de novo hipódromo. O Guabirotuba fica com o Estado e a área do Tarumã, com o Jockey. Em 1951, o governador Bento Munhoz da Rocha apoia financeiramente, através do Banestado, a construção do hipódromo do Tarumã.

Com um arrojado projeto do jovem engenheiro Edmir Silveira D’Avila, tem início, em 1952 as obras do novo hipódromo, na presidência de Pedro Alípio Alves de Camargo, porém, o ocorre o inesperado: as marquises das arquibancadas social e popular cedem e adiam a inauguração transferida para 1955.

Em 21 de novembro desse ano é realizada a última corrida no Guabirotuba, o GP Encerramento, vencido por Humorada, do presidente Pedro Alípio Alves de Camargo, montada por Macedo de Freitas e treinada por Rubens Gusso.

No dia seguinte, Fair Diplomat (Helmar Cezar) e Humorada (Constante Bini) inauguram a raia externa do Tarumã, com um galope de apresentação, cuja fita foi cortada pelo ex-presidente Flávio Macedo. E em 10 de dezembro, sábado, as 11 horas da manhã, a prova inaugural vencida por Miguel Ângelo (Pierre Vaz). Starter: Mário de Araujo Márquez. As partidas ainda são com fita ou no ‘grito’, com os cavalos perfilados dentro de um caixão, um sim, outro não, chamado de intervalo.

No domingo, dia 11, é corrido o primeiro GP Paraná no Tarumã, ganho pelo gaúcho Salomão (Roberto Arede). E em seguida uma enorme tempestade cai e a pista vira um “mar” e os fortíssimos ventos – já era noite, sem iluminação artificial – impedem a realização do último páreo e todas as vidraças do novíssimo quiosque da comissão de corridas se espatifam. O movimento de apostas fica muito aquém da expectativa, pela multidão que compareceu e a lentidão na venda de pules.

A crônica de turfe, testemunha ocular em 1955, das duas eras (Guabiroturba e Tarumã): Castellano Netto (Presidente da ACTP),Fernando Wolff e Luiz Renato Ribas (Diário do Paraná/Rádio Guairacá), Murilo Gomes Correia (Diário da Tarde), Rodolpho Carlos Bettega (PRB-2), Raphael Munhoz da Rocha (O Estado do Paraná), Eduardo Saltori (O Dia), Apeles de Ferrante (Paraná Esportivo), Guido Bettega (Rádio Marumby), Mbá de Ferrante (Gazeta do Povo), João Carlos de Aguiar (Rádio Cultura), Carlos Langer Neto (Rádio Guairacá), Hugo Kosop (Rádio Emissora Paranaense) Helio Peixoto (A Tarde), e Luiz Fernando Kosop (locutor interno).

Em 12 de agosto de 1960 é fundada a Associação de Criadores, presidida por Luiz Gurgel do Amaral Valente e mais tarde a Associação dos Proprietários idealizada pelo turfista Ubaldo Siqueira. E para evitar rivalidades e aglutinar esforços, ambas se fundem sob a mediação do dr. Heliodóro Duboc, dando origem a atual ACPCCP, Associação dos Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida do Paraná. Em 1963 um surto de gripe equina impede a realização do GP “Paraná”.

E, em 1965, é fundado o Jockey Club de Londrina, Hipódromo Ouro Verde, e na gestão de Rubens Amazonas de Lima (1970/1972) é implantado no Tarumã, em 1971,o primeiro starting-gate, fabricado no Paraná.
O Jockey presidido, de 1973 e a 1984, pelo médico e criador paranaense Aramys Bertholdi, são implantados a iluminação, o totalizador, o modelar hospital veterinário e a cromatografia, serviço de antidoping. Nesse ano,1984, é inaugurado também no Tarumã pela ACPCCP, na gestão de Cezar Franco o Tattersal.
O paranaense Much Better, com Jorge Ricardo, criação do haras J.B.Barros, vence na Argentina o GP”Carlos Pellegrini”.
Falece dia 28 de dezembro, aos 87 anos, o presidente construtor do Hipódromo do Tarumã, Pedro Alípio Alves de Camargo.
O novo século XX se inicia economicamente difícil para o turfe paranaense, ocasião em que uma grande área do Tarumã é negociada por R$ 27 milhões com o grupo português SONAE, visando a construção de um shopping, porém a venda não se concretiza e o sinal de negócio, R$ 100 mil, fica com o Jockey.
Em 10 de março de 2005 é oficializado o tombamento do hipódromo do Tarumã pelo Conselho do Patrimônio Histórico Cultural do Estado.

Em Assembleia Geral Extraordinária realizada em 2006, é aprovada, sob suspeita de fraude, a venda de dois terrenos do Jockey Club do Paraná pelo valor de R$ 20 milhões, fraude somente comprovada em 2009, pela polícia: 30 assinaturas foram falsificadas, sendo de 9 sócios falecidos e 21 ausentes. Mas o processo é, estranhamente, arquivado. E a mesma diretoria, presidida por Roberto Hasemann “leiloa” títulos do Jockey Club por R$ 70,00, cujo objetivo “eleitoreiro” seria anulado judicialmente em 2015, com o expurgo de 2.937 “sócios fantasmas”.

Em 2 de julho de 2014 é cassada pelo Ministério da Agricultura, a carta patente – número 13 – do Jockey Club do Paraná cuja diretoria, presidida por Cresus Aurelio Wagner Camargo, seria integralmente destituída pelo interventor judicial José G. Rauli.

Finalmente em 2 de dezembro de 2016, o Jockey Club do Paraná tem um novo presidente eleito legitimamente – 2015/2018 – o empresário e criador Paulo Irineu Pelanda. E em 17 de janeiro, após 19 meses sem corridas, o Tarumã reabre com um público surpreendente de 4 mil pessoas. First Amour, do Haras Iguassu, é o grande vencedor do Grande Prêmio “Paraná” desse ano, interrompido desde 2014.

Mas o ano turfístico de 2017 se inicia com enorme otimismo com a reinauguração do sistema de iluminação das pistas e as realizações de corridas quinzenais.