Na noite desta quinta-feira, 09/11/17, o JCP prestará mais uma justa homenagem ao turfista Gilberto Storelli, ex-diretor e sócio ouro do Jockey Club do Paraná, fundador do Haras Andorinha e que marcou época no turfe paranaense mesmo com pouco tempo de vida. Natural de São Paulo, Gilberto nos deixou em 1993, aos 48 anos, em um acidente quando voltava do Haras Andorinha, sua “menina dos olhos”.

Em sua vida profissional, Gilberto era empresário desde os 26 anos, quando, em 1971, já morando em Curitiba, fundou sua primeira empresa, atuando no ramo de comércio de bijuterias e presentes. Após poucos anos, ainda na década de 70, o sucesso da empresa o permitiu iniciar um modesto “sítio” em Campo Largo – sítio este que, logo, viria a se tornar o Haras Andorinha.

O nome fora escolhido em função da enorme quantidade de andorinhas que por lá revoavam. Mas o que realmente importa é a ascensão do haras, que mesmo sempre modesto e em curta temporada de atuação, acabou por se tornar bastante conhecido no turfe paranaense e deixou, inclusive, sua marca, mesmo que pequena, no turfe nacional.

Sob o comando de Storelli, o haras criou produtos até a letra “N” (1992), totalizando 15 gerações de corredores e mais de 200 vitórias de seus “crioulos”. A primeira cria foi em 1978, com a potranca Sinhá Andorinha, que correu duas vezes em Cidade Jardim, com uma vitória e uma colocação.

Entretanto, caso estivesse vivo, Gilberto certamente daria destaque para as gerações a partir de 1985, quando conheceu o garanhão que viraria o símbolo do Haras Andorinha e está sempre presente nos troféus dos ganhadores dos prêmios em sua homenagem.

Este garanhão, chamado Grandote, foi caracterizado como uma espécie de “pirata”, com um tapa-olhos e cara de mau (foto destaque), visto ter operado e retirado o olho esquerdo quando ainda jovem. Alguns de seus produtos são conhecidos em todo o Brasil, ao passo que outros, que ficaram “no quase”, em virtude de lesões precoces, permaneceram ativos apenas nas “rodas de chimarrão” das cocheiras do Jockey Club do Paraná.

Dentre os destaques proporcionados por Grandote, o mais famoso, sem dúvida, foi Nick de Mestre (em Innamorata, por Upset), vencedor do Grande Prêmio Osvaldo Aranha (G1), Grande Prêmio Consagração (G1), outras duas provas de Grupo 2 em Cidade Jardim e um total de 11 vitórias na carreira. Era considerado a “segunda força” do Grande Prêmio São Paulo Votorantim, de 1997, mas acabou se lesionando durante a prova e terminou na oitava colocação.

Três vitórias do Nick de Mestre, incluindo o GP Osvaldo Aranha (G1) estão disponíveis na Internet:

É de se lamentar, apenas, o fato de que Gilberto não chegou a ver este animal nas pistas.

Contudo, novamente, se pudesse nos dar um parecer, Gilberto diria que o melhor cavalo já criado pelo Haras Andorinha chamava-se Golpe de Mestre (Grandote em Cassine, por Kelelê), que pode ser visto na foto. Este cavalo era o mais conhecido em 1988 nas cocheiras e na famosa “Sala VIP” do Jockey Club do Paraná, tanto pela imponência de seus quase 550kg quanto pela qualidade dos aprontos, nos quais o recorde dos 1.600m foi batido “com o chicote debaixo do braço”. Mas, após 2 vitórias seguidas, Golpe de Mestre se lesionou na reta final da Taça Pinheiro de Ouro de 1988, quando estava na liderança e se jogou na cerca para, mancando, cruzar o disco em terceiro.

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Um fato curioso, que talvez poucos se lembrem, é das “grandes discussões” entre Gilberto e seu filho mais novo, o Luciano, sobre quem era melhor cavalo criado pelo Haras Andorinha. Na opinião do filho, na época com apenas 12 anos e o único que estava sempre acompanhando o pai nas pistas do Jockey, este título deveria ser creditado a outro filho de Grandote: Gransilvio (em Fetuchka, por Sancy), que foi uma recria do Haras Andorinha em 1989.

As folclóricas discussões iniciaram após Gransilvio, outro “grandalhão” de 530kg, superar o recorde da mesma distância do Golpe de Mestre (1.600m) porém, nesta oportunidade, além de ser oficial, o tempo recorde fora cravado na grama de Cidade Jardim, em 1992. Este recordista da milha correu 9 vezes em São Paulo, com 5 vitórias e, lesionado, encerrou sua carreira invicto em grama seca, sua raia favorita.

As cinco vitórias do Gransilvio, incluindo o recorde dos 1.600m na Grama, estão disponíveis abaixo:

Como ambos os animais se lesionaram no meio da carreira, esta eterna e acalorada discussão nunca teve um vencedor!

A turma da década de 80 e início dos anos 90 certamente lembra com muito carinho do Storelli e lamenta, até hoje, a perda precoce deste grande turfista e empresário paranaense.