Foto-destaque: Sylvio Rondinelli/JCB

A criação paranaense brilhou mais uma vez nas principais provas do turfe brasileiro. Na semana máxima do Grande Prêmio “Brasil” – (G1) foram duas vitorias em provas clássicas. A primeira ocorreu no sábado, com Neusely vencendo o Grande Prêmio “Rocha Faria” – (G2). Neusely é de criação do Haras Figueira do Lago, filha de Al Arab e Bernaise, por Mark Of Esteem.

Mas o melhor ainda estava por vir. Domingo, no Grande Prêmio “Linneo de Paula Machado” – (G1), Oberyn, de criação do Stud Chesapeake, venceu a tradicional prova num final de tirar o fôlego, resistindo ao ataque simultâneo de quatro cavalos. Oberyn é filho de Salto e Hazelberry, por Setembro Chove, e a criação é do Stud Chesapeake. O titular do Stud, Sr. José Luiz Glaser, gentilmente concedeu a entrevista abaixo ao Jockey Club do Paraná.

JCPR – A família Glaser tem envolvimento com o turfe há muitas décadas, mas podemos dizer que o Stud Chesapeake começa com Setembro Chove?

JLG – Não. Começou um pouco antes. Os primeiros filhos do Setembro são da letra G. Tivemos seis gerações antes do Setembro voltar de Singapura para o haras.

JCPR – Ele teve uma campanha muito exitosa nas pistas, o Sr. chegou a receber propostas para vende-lo?

JLG – Vendi duas vezes. A última por 500 mil dólares, logo depois do Grande Prêmio “Presidente da República”. Mas ele não passou nos exames. O bom é que ele ganhou isto nas pistas e ainda o tenho.

JCPR – E quando chega o momento de encerrar a carreira do Setembro Chove, naturalmente ele seria aproveitado na reprodução. No entanto, como o Sr. mesmo disse, o Stud já estava com seis gerações. Houve algum tipo de mudança nas matrizes, ou alguma adaptação no Stud para que ele tivesse suas capacidades como reprodutor otimizadas?

JLG – Não muito. Eu fiz um cálculo básico. Eu tinha 20 éguas no haras. Comecei dando seis por ano e o meu cálculo era que se nada desse certo eu ficaria com 24 produtos, pois não seria fácil vende-lo. As quatro primeiras gerações foram as letras G, H, I e J. Eu acho que vendi três ou quatro produtos, entre eles estava a Juno. Muitas destas éguas estão no haras até agora, como a Grand Ocean, Hazelberry e Hyannis.

JCPR – A My Special Gallery fazia parte da primeira geração de matrizes?

JLG – Não. Ela foi comprada por muito pouco. Estava cheia do Holzmeister, um garanhão que não deu grandes resultados. Vendi a potranca, cobri no Setembro e deu a Hazelberry, que foi bem boa. Fez dois segundos em provas de grupo. É da mesma geração da Hyannis. My Special Gallery teve mais um produto por Shirocco. Chama-se Juízo e Alegria. Não foi tão boa quanto a irmã. O primeiro produto estreia ano que vem e chama-se Pacífic Trader, por Setembro Chove. Este foi o último produto da My Special Gallery.

JCPR – A campanha dela em carreira não foi das melhores, no entanto, tinha uma raça muito interessante e havia gerado Alegria de Pobre. Ela foi comprada já visando ser padreada por Setembro Chove? Houve um estudo do que poderia sair deste cruzamento?

JLG – Primeiro eu vou atrás de linhas maternas. Gosto de famílias que já produziram mesmo que não tenha dado muita coisa em uma geração. Antes de comprar uma égua eu vejo como se enquadra o pedigree. Só não gosto de comprar égua perdedora. Tem que ganhar pelo menos uma.

JCPR – Na primeira oportunidade de My Special Gallery com Setembro Chove nasceu Hazelberry. Como o Sr. citou, com campanha melhor que de sua mãe, principalmente no início, com dois segundos lugares clássicos. Esta campanha foi o que a garantiu como reprodutora no Stud?

JLG – Sim. Mas não é a única razão. Normalmente eu levo as melhores, mas nem sempre.

JCPR – No caso de Hazelberry, quais outros fatores pesaram?

JLG – Boa linha materna, ganhadora com segundo em G2.

JCPR – Ela não poderia, obviamente, ser padreada por Setembro Chove. Como se deu a escolha pelo garanhão Salto?

JLG – Eu comprei quotas do Salto para cobrir as filhas do Setembro Chove. Então vi que não dava para cobrir todas, pois os tipos físicos não davam certo com algumas. Assim, comprei quotas do Camelot Kitten. Tenho também do Tiger Heart. Tem algumas éguas que não produzem bem com garanhão A ou B.

JCPR – No segundo cruzamento Salto x Hazelberry nasce Oberyn. A escolha do nome tem algo a ver com o personagem dos livros de George R. R. Martin?

JLG – Sim. Oberyn da casa Martell. Dei muitos nomes para personagens do Game of Thrones. O primeiro produto se chamava Nymeria, que era a loba da Arya.

JCPR – E foi com Oberyn que a criação Chesapeake levantou o “Linneo de Paula Machado”, uma das provas mais tradicionais do turfe brasileiro. Quantas provas clássicas o Stud Chesapeake já ganhou como criador?

JLG – Na Gávea, o Grande Prêmio “Nelson e Roberto Seabra” com Midsummer Rain e o Oberyn sábado. Em São Paulo tivemos Juno, Love ‘n’ Happiness e Love Your Look. Juno ganhou dois G1 e as outras duas um G1 cada. O Oberyn foi o primeiro G1 em provas de macho. São cinco ganhadores de G1. Nada mal para um haras que não quer ser chamado de haras. É stud até hoje.