Dupla formada pelo jóquei V. Rocha e o puro-sangue First Amour defende o turfe local e o bicampeonato do Grande Prêmio Paraná neste domingo (24)

Reportagem publicada no Jornal Gazeta do Povo em 23/09/17  – por SANDRO MOSER – 23/09/2017 – 15:00 – Fotos: Daniel Caron

“Eu conheço as manhas dele e ele as minhas”, diz o jóquei Valmir Rocha, enquanto alisa a fronte do puro-sangue inglês First Amour.

Para Rocha, ele é o “cara-branca”, companheiro de treinamentos diários nos últimos dois anos. Em 2016, V. Rocha (nome de guerra do jóquei no turfe) o conduziu a uma vitória acachapante no Grande Prêmio Paraná.

Na entrada da reta oposta, a dupla estava em terceiro lugar até que “em decisão conjunta” foi ao ataque. “Nos últimos 400 metros eu coloquei por fora e o deixei fazer o que sabe. [First Amour] é um cavalo que gosta de ganhar, de disparar na frente”, disse.

Os dois estarão unidos de novo na disputa do Grande Prêmio Paraná, neste domingo (24) no Jockey Clube do Paraná, no Tarumã. O derby paranaense será o 8º páreo de um programa de onze corridas que começam às 13h30. A largada da prova principal está programada para as 17h30.

Desta vez, V. Rocha será o único jóquei que disputa a prova jogando “em casa”. Seus outros treze competidores são do Rio de Janeiro, São Paulo e outras regiões do país.

No ano passado, foi diferente. A prova teve apenas dez competidores com maioria de equipes locais. Era o primeiro grande prêmio depois da retomada do Jockey Club do Paraná.

Segundo hipódromo mais antigo do país, a associação chegou a fechar por um período de pouco mais de um ano, até o início de 2016. A eleição de uma nova diretoria saneou os problemas legais, fiscais e administrativos que o interditaram e reativou as reuniões para alegria dos apostadores e aficionados do turfe.

“Foi um processo um pouco conturbado, com o Jockey em crise. Foi uma luta, mas hoje o clube foi organizado e está com vida nova. Nosso negócio é cavalo de corrida e eles voltaram a ser a atração principal”, disse Paulo Pelanda, atual presidente do clube.

A dupla First Amour e V. Rocha ainda é cotada como uma das favoritas, mas o cavaleiro reconhece que o “páreo será mais duro desta vez”. Na última quarta-feira (20) os dois trabalharam na pista de areia pesada, como fazem todas as manhãs sempre às 6 horas.

Talvez seja o último derby local dos dois juntos. First Amour está prestes a completar cinco anos, já será um veterano no ano que vem.  O auge competitivo dos quadrupedes é perto dos três anos. “Tem cavalo com cinco anos que anda bem como ele, mas não dá pra negar que sempre tem uma geração mais nova chegando”.

O jóquei diz que seguirá na lida “até quando Deus deixar”. “A gente pega amor. Eu sou apaixonado por cavalos e não sei fazer outra coisa a não ser lidar com eles”.

Rocha é o grande expoente da atual geração de jóqueis paranaense e um dos principais nomes do país. “Para mim, ele é uma espécie de Romário do turfe nacional atualmente”, elogia Rubens Gusso, diretor de marketing do JCP.

Ao contrário do “rei da grande área”, Rocha não contabiliza seus êxitos. “Nunca me dei ao trabalho de contar o número de vitórias, mas não foram poucas. Em todos os grandes hipódromos do país e muitas na Argentina também”, reconhece.

Rocha também é “baixinho”: tem 1,56 metro de altura (11cm a menos que Romário). Atualmente pesa 53 quilos, dado importante para o desempenho no turfe. “Com um quilo a mais me sinto gordo. Com um a menos parece que fico meio fraco”, descreve.

Mas ele não sofre com a balança como muitos dos colegas. E lembra que hoje tem 30 quilos a mais de massa do que quando fez sua primeira corrida, aos 10 anos de idade. Nascido na cidade gaúcha da Camacuã, Rocha conta que cresceu “na fazenda, no meio dos bichos”.

Como levava jeito para a montaria o pai o incentivou a participar de provas amadoras, “carreiras que fazem em pistas retas de quarto de milha no meio do mato”.

Vieram as primeiras vitórias. Adolescente, foi competir em provas parecidas em Rosário, na Argentina, e viu que tinha achado sua profissão. Em Curitiba já se vão 12 anos, defendendo a farda do haras Rio Iguassu, de São José dos Pinhais.

Os vencedores do derby 2017 vão dividir uma bolsa que chega perto dos R$ 100 mil. O Grande Prêmio é o maior acontecimento do esporte e mexe com a rotina dos criadores, jóqueis, apostadores e, claro, dos cavalos, estrelas da festa. O atual campeão, porém, garante que a tensão é sempre a mesma.

“Eu sempre falo e tem gente que não acredita que montar uma carreira num grande prêmio valendo R$ 100 mil ou uma com prêmio de R$ 1 mil num dia qualquer é a mesma adrenalina. Isto aqui é minha vida”.