O 4º páreo da reunião turfística da próxima quinta-feira relembra a figura de um dos fundadores do Jockey Club do Paraná, tendo sido o seu primeiro Presidente honorário.

Por volta dos anos 1870, veio para Curitiba e segundo o jornal curitibano “Dezenove de Dezembro” Jácome era “um ilustre hypólogo com seu excelente méthodo de domação!”. Ele fazia demonstrações de suas habilidades em praça pública(*) corcoveando e rodopiando com seus cavalos Sanhassu e Rivadávia”.

Em meados do século 19 as corridas em cancha reta, como eram conhecidos os duelos a cavalo, já eram realizadas em Curitiba e em algumas cidades do interior do Estado.
A história do Jockey Club do Paraná começou em 29 de novembro de 1873, quando o extinto “Jornal Dezenove de Dezembro” publicou um convite à população curitibana, o de participar da primeira reunião para a fundação do clube, que seria no dia seguinte.
A edição de 28/01/1874, do jornal “Dezenove de Dezembro” assim anunciou: “Club de Corridas Paranaense – amanhã – 29 do corrente, às 3 horas da tarde, terá logar a inauguração do Prado Jácome, com uma brilhante corrida de amadores. Os Srs. que inscreverem seus cavalos queiram apresentar-se na hora marcada para arranjaram-se os páreos” (Nestor Borba – 1º Secretário).
Para a sociedade era um acontecimento muito importante, pois as corridas eram uma grande atração da época.

Quem organizou esta reunião foi Luiz Jácome de Abreu e Souza, fundador da Escola de Equitação de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, e um dos principais incentivadores do hipismo no país; destacado pela imprensa na época como “A Alma do Turfe Paranaense”. Esse gaúcho, fácil fazedor de amigos e grande domador de cavalos era sempre pronto a mostrar suas perícias em praça pública, permaneceu na Província por 73 dias com a finalidade de organizar o Club de Corridas Paranaense, desejo que acabou sendo consolidado.

Em sua edição de 31/01/1874, o jornal “Dezenove de Dezembro” comentou a festa de inauguração do Prado Jácome, evidenciando de maneira especial a figura do hipólogo Luiz Jácome de Abreu e Souza:
PRADO JÁCOME – quinta-feira, às 3 horas da tarde, perante numerosa concorrência, inaugurou-se o Prado Jácome. O campo onde se traçou a raia foi escolhido com felicidade, pois sendo suavemente ondulado, satisfaz a todos os requisitos para bem julgar-se da força muscular e do poder dos pulmões dos cavalos. O Professor Jácome, o protagonista desta festa de progresso, montando em seu sábio Sanhassu, sempre amável e cavalheiro como todos conhecem, era incansável, dispensando conhecimento e dirigindo os amadores e espectadores em ordem a evitar todo e qualquer perigo. Dividiu-se, multiplicou-se, foi em fim a alma do turfe.
Foram juízes – da partida: o Sr. José Moreira de Freitas; da chegada o Sr. Mota Junior e da raia os Srs. Alferes Bonoso, Assis Teixeira, Bento Osório e Candido Lopes”.

Com pista de 1,7 mil metros, que corresponde a uma milha inglesa, ou doze e meia quadras; o Prado Jácome, como também era chamado, foi inaugurado em 29 de janeiro de 1874, localizado na rua Marechal Floriano Peixoto, onde atualmente funciona o campus de Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), antigo Hospital Nossa Senhora da Luz, hoje Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz.

O Jornal “Dezenove de Dezembro assim comentou:
O nosso compatriota o ilustre hypólogo Jácome, depois de uma demora de setenta e três dias na Província, tendo visitado alguns pontos do interior, onde deixou sessenta discípulos adestrados em sua difícil arte, fundando o Club de Corridas e inaugurando ante hontem o Prado, retirou-se hoje para Antonina com destino à Província de São Paulo, onde pretende continuar a sua propaganda, colhendo os louros que lá o esperam. Prósperos ventos os acompanhem”.

Antes de partir, Luiz Jácome realizou uma demonstração de doma em benefício da Santa Casa, que mereceu do jornal “Dezenove de Dezembro” o seguinte comentário:
O ilustre hypologo brasileiro provou seu excelente método de domação. Um zaino bruto que nunca tinha recebido o contacto da mão do homem recebeu-o docilmente no fim de oito minutos, deixando-se embuçalar como qualquer tambeiro. A perfeição deste trabalho que vem substituir o systema brutal da pancada pelo raciocínio e perseverança, é maravilhoso. O sr. Luiz Jácome antes de começar seu trabalho pronunciou uma allocução em que provou seu saber, inteligência e patriotismo”.

No dia 2 de dezembro daquele ano foi eleita então, a primeira Diretoria do Jockey Club do Paraná, composta por Luiz Jácome de Abreu e Souza, como Presidente Honorário; Major Manoel Marcondes de Sá, Presidente; Luiz Manoel Agner, Vice-presidente; e também Nestor Augusto Marocines Borba (1º. Secretário), Albino Scmmelpfeng (2º. Secretário) e o Tenente João Batista Ribeiro (Tesoureiro).
O hipólogo gaúcho, meses depois, foi transferido, como militar, para São Paulo, onde teria sido um dos organizadores, em março de 1875, do Clube de Corridas Paulistano, Hipódromo da Móoca, hoje Cidade Jardim do Jockey Club de São Paulo.

(*) Provavelmente a praça pública, na época, era o Largo do Mercado (mais tarde Praça Zacarias) ou até quem sabe fosse a pioneira “Tiradentes”, entroncamento principal do transporte coletivo.

Fontes: artigo do jornalista Luiz Renato Ribas e pesquisas de Dariu Lopes Pereira no Google e literatura de turfe.