Falar bem do Haras Cifra é “chover no molhado”. Fundado pelo saudoso Ciro Frare e batizado por seu filho Alexandre, a farda marcante sempre desfilou pelos principais hipódromos do Brasil. De lá para cá muita coisa aconteceu, animais muito corredores representaram este centro criacional de excelência até chegarmos aos anos de 2017 e 2018, quando os animais que defendem as cores “verde, branca e preta” começaram a “dominar” algumas das principais provas do Hipódromo de Cidade Jardim.

Muitos não sabem, mas além do Haras Cifra o Stud Galope também é de propriedade de Alexandre Frare, que assim como seu pai é um apaixonado pelo turfe e pelos cavalos. Vencedor de algumas das principais provas para potros e potrancas nos últimos anos, Alexandre conversou conosco e nos contou um pouco do que faz do Haras Cifra esta referência no turfe brasileiro.

Paixão pelo turfe: 

“Acompanhei meu pai nos domingos à tarde nas corridas no Tarumã e nos bons tempos de Uvaranas desde meus 8 ou 9 anos. Tenho muitas saudades daquele tempo. Em 1988 ele comprou a propriedade que foi nominada como Cifra por minha sugestão e, na primeira geração criada, ele presenteou a mim e ao meu querido primo Newtinho Slaviero com o castanho Aronides, um dos primeiros potros a nascer. O nome era uma homenagem ao bom amigo dele, Aronides Raikoski.”

“Resolvemos formar um Stud e o nome veio do apelido do saudoso Ricardo Slaviero entre seus primos. Com o tempo acabei ficando sozinho no Galope e me tornei um bom cliente do Haras Cifra. Parece estranho, mas como meu irmão não é muito ligado ao turfe e minha mãe tampouco, sigo administrando o Haras e conto com alguns animais no Stud Galope.”

Animais marcantes: 

“Ao longo dos anos a égua Londrina foi um marco para o Haras, tendo sido uma excelente égua em carreira e melhor ainda como reprodutora, que formou a base do Cifra e era o xodó do meu saudoso pai. Outra égua inesquecível foi a Engualichada, primeira crioula a vencer uma prova de Grupo 1.”

“Outra égua excelente e que muitas alegrias nos trouxe foi a Curitiba, importada quando yearling (desmamada) e  exportada após 7 vitórias e estando invicta. Na farda do Galope, sem sombra de dúvida a Alta Vista e o Galope Americano foram os melhores.”

Vitórias marcantes:

“As vitórias que mais marcaram foram o GP Diana (G1) ganho pela Alta Vista, com uma direção excepcional do grande Luiz Duarte e o Derby Paulista com Galope Americano, que foi um projeto montando pelo Delmar Albres com uma precisão espetacular. Ele sempre confiou que ganharíamos, já eu achava que era um excesso de otimismo em razão dos excelentes adversários. Nesta prova o André Luis Silva foi perfeito e o correu com a mesma confiança que o Delmar tinha.”

Criação e seleção das reprodutoras:

“A maioria das éguas que fazem parte do plantel são crioulas nossas que mostraram aptidão em pista e boa conformação física. Importei algumas e adquiri outras em leilões sempre tendo o cuidado de buscar boas linhas maternas.”

“Em relação aos reprodutores, procuro utilizar as melhores opções que estejam disponíveis. Sempre procuro adquirir cotas dos garanhões sediados na região metropolitana de Curitiba, bem como participar dos eventuais shuttlings trazidos para cá. Os cruzamentos são estudados utilizando as ferramentas disponíveis na internet e pedindo conselhos a alguns amigos que tem grande conhecimento, como o Zeca Castellano entre outros.”

“Outro grande nome que vale mencionar é o saudoso Luiz Costa, que por muitos anos nos ajudou na formação do plantel e na formulação dos cruzamentos. Sou muito grato a ele pelos ensinamentos ao longo dos anos em que trabalhamos juntos.”

Evolução dos produtos do Haras Cifra:

“Reputo como as melhores gerações criadas no Cifra as recentes letras G e H, que foram as primeiras gerações criadas em uma área que não era utilizada, após investimentos para melhor acompanharmos o desenvolvimento individual de cada produto.”

“Temos uma excelente equipe no Haras sob responsabilidade do Dr. Maurício Pontarollo. No treinamento temos todo o conhecimento e competência do Delmar Albres e a supervisão veterinária do Dr. Maurício Pontarollo. Nos últimos 10 meses conseguimos realizar alguns dos sonhos que todos os criadores tem, vencendo o Derby Paulista com o Galope Americano e as primeiras provas da Tríplice Coroa com a Hembra e com o Halston.”

Vencer um GP Paraná como criador:

“A Grand Amiga é uma excelente égua, porém a missão é bastante complicada uma vez que acredito que ela renda mais na grama. O GP Paraná é um dos objetivos ainda não atingidos, espero conseguir ganhar com um crioulo, já que o First Amour nos deu esta enorme alegria em nossa sociedade com o Paulinho Pelanda e o Luiz Felipe Pelanda.”

O futuro do turfe:

“O atual momento é preocupante em razão das sérias dificuldades pelas quais passam os Jockeys Clubes. Nossa atividade vem sendo reduzida ano após ano com as liquidações e encerramento de importantes criadores. O nosso Tarumã caminha bem, sendo conduzido por abnegados turfistas, tendo excelente estrutura e ótimos profissionais. Mas ainda contamos com uma população equina baixa, em razão das dificuldades que nosso país passa e que nos atingem diretamente.”

“O Jockey Club de São Paulo, nosso maior parceiro, passa por uma de suas maiores crises e com muitas dificuldades segue com as corridas, porém com atrasos salariais e não pagamento dos prêmios. Em que pesem estas dificuldades sou otimista em relação ao futuro, pois nossa criação evoluiu muito e acredito que nossos animais podem fazer bonito em qualquer hipódromo do mundo.”

Após conversarmos com Alexandre Frare, duas coisas ficaram claras. A primeira é o amor que ele tem pelo turfe e pelos cavalos de corrida e, a segunda, é que enquanto existirem criadores como ele no Brasil o turfe nunca acabará. Um grande exemplo de amor e sucesso neste esporte que tanto nos encanta.

*Fotos: Porfírio Meneses e Estéfano Lessa.